Por Rosely Rocha / CUT

A luta por melhores salários que recomponham pelo menos o índice da inflação tem sido árdua para os trabalhadores e trabalhadoras do país, que veem seu poder de compra cada vez mais corroído com a crise econômica aprofundada pelo desgoverno de Jair Bolsonaro (PL), que ainda tem a desfaçatez de defender mais perdas de direitos trabalhistas como forma de abrir vagas, argumento comprovadamente falso.

Leia mais: Entenda porque CUT e centrais querem revisar a reforma Trabalhista de Temer

No entanto, algumas categorias têm conquistado alguns ganhos como demonstra o boletim mensal “De olho nas negociações”, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Em abril deste ano das 163 categorias pesquisadas com data-base neste mês, a maioria teve reajuste iguais ou acima da inflação. No levantamento, 8% alcançaram resultados acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e 46% obtiveram reajustes iguais a esse índice – o que totaliza 54% das negociações da data-base. Esses dados preliminares praticamente repetem os da data-base de março, quando 53,7% das negociações conseguiram reajustes iguais ou superiores ao INPC.

Já o percentual de reajustes abaixo da inflação segue em alto patamar (46% do total, em abril). Em média essas categorias tiveram reajustes 17% menor do INPC, valor necessário para a recomposição plena dos salários.

“Os sindicatos têm feito uma luta hercúlea para conquistar reajustes acima ou de acordo com a inflação, mas a alta de preços sem perspectiva de queda, a crise econômica agravada pelo governo que a cada hora reajusta os preços dos combustíveis, dificultam as negociações”, analisa o coordenador da pesquisa, o técnico do Dieese, Luís Ribeiro.

A economia não deslancha. Toda hora o ministro da Economia e os bancos dizem que o crescimento está sendo retomado. Não é verdade. Os números são frágeis, não existe uma melhora sustentável quando há desemprego e inflação em alta

– Luís Ribeiro

Variação real média

Em abril, a variação real média dos reajustes foi de -0,76%, resultado pior do que o das negociações com data-base em março e ligeiramente melhor do que o daquelas com data-base em fevereiro. Em todas as últimas 15 datas-bases, a variação real dos reajustes foi negativa, especialmente em julho de 2021      (-1,94%).

As médias negativas refletem o peso dos resultados abaixo do INPC-IBGE, que superam em grandeza os ganhos dos reajustes acima do índice inflacionário.

 “O cálculo é feito pela média, quem teve reajuste igual ao INPC zerou, empatou, quem ficou abaixou perdeu e o ganho acima da inflação foi para poucos. Por isso que a média dos reajustes ficou negativa, superando quem teve reajuste acima da inflação”, diz Ribeiro.

Reajuste necessário em maio

Com o aumento dos preços da ordem de 1,04% em abril, o valor do reajuste necessário para as negociações com data-base em maio será de 12,47%, segundo o INPC-IBGE. É o maior valor do período considerado pelo boletim do Dieese.

Segundo Luís Ribeiro, o mês de maio é o mais importante pois dá o tom das negociações do ano em virtude de categorias importantes terem data-base nesse mês como petroleiros, químicos, bancários, entre outros.

“Quanto mais a categoria for forte e organizada mais chance tem de conquistar um reajuste acima da inflação”, diz o técnico do Dieese

Resultados acumulados em 2022

Houve ligeira piora no quadro geral das negociações dos reajustes salariais de 2022 em relação ao analisado no boletim anterior, publicado em abril. Os reajustes salariais abaixo do INPC-IBGE representam agora 40,8% do total no ano; aqueles em percentuais iguais a inflação são 31,6%; e os resultados acima do índice inflacionário equivalem a 27,6%.

Esses números podem variar, conforme novas negociações para essas datas-bases sejam concluídas. Confira aqui a íntegra do boletim “De olho nas negociações”, do Dieese.