Por Marize Muniz / CUT

Sem acordo com o governador Romeu Zema (Novo), que travou a negociação de renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Energética em Minas Gerais (Sindieletro-MG), os servidores estão em greve por tempo indeterminado desde esta segunda-feira (29).

Na tarde de ontem, dezenas de militantes de movimentos sociais que apoiam a greve se uniram aos trabalhadores e ocuparam o saguão da sede da Cemig, em Belo Horizonte (MG), onde permanecem. A ocupação vai ter duas turmas, uma durante o dia e outra à noite, diz nota no site do Sindieletro-MG.

O objetivo da ocupação é denunciar os ataques do governo Zema aos direitos dos trabalhadores, que reivindicam reajuste sobre salários e benefícios com base na variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Eles denunciam também o desmonte da estatal, que é um dos primeiros passos rumo à privatização, no mesmo estilo do governo do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL): desmonta para vender barato.

Os manifestantes, ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) reivindicam a redução dos preços da tarifa de energia.

A direção da Cemig diz que só volta a negociar após a desocupação do local.

Negociação nesta segunda não teve acordo

Após a greve ser deflagrada, a direção da Cemig chamou a direção do Sindieletro-MG para negociar o fim da paralisação da categoria. A reunião terminou à noite sem acordo entre as partes porque a estatal continua se recusando a aceitar a proposta de reajuste superior a 11% sobre salários e benefícios pagos aos trabalhadores.

Antes da reunião, no início da tarde, os sindicalistas fizeram um ato em frente ao edifício da Cemig, no Anel Rodoviário.

Nesta terça-feira mais uma ação está marcada em frente ao prédio, a partir das 10 horas da manhã.

O coordenador geral do Sindieletro-MG, o Emerson Andrada, disse em entrevista a jornais locais que o reajuste do salário é a principal reivindicação dos trabalhadores, mas também tem pontos importantes como a garantia da segurança sanitária dos trabalhadores frente a pandemia e o tratamento isonômico para trabalhadores investigados.

Ele quer que todos seja tratados como o presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi, investigado pela CPI da Cemig, que consegue se manter no cargo durante o processo de investigação.

Segundo o dirigente, quando um trabalhador é investigado, é afastado do cargo até que o processo de investigação termine o que não aconteceu com o presidente da empresa.

Pauta de reivindicações dos trabalhadores:

A pauta da categoria tem 34 itens e a Cemig não negociou nenhum deles. “Pelo contrário, a Cemig apresentou-nos uma contrapauta e nesse documento a Cemig retira de nós uma série de direitos, uma série de conquistas construídas ao longo dos quase 70 anos de existência da Cemig e da categoria eletricitária”, afirmou Emerson Andrada.

Os trabalhadores da Cemig reivindicam manutenção das conquistas anteriores, recomposição salarial de acordo com a variação do INPC para o período de 1º de novembro de 2020 a 31 de outubro de 2021, aumento real sobre os salários reajustados pelo INPC, reajuste dos itens econômicos e outros itens. Confira aqui a pauta completa.

Compromisso com o povo

Apesar da greve, os servidores vão atender ocorrências de urgência, de acordo com o dirigente. “O Sindieletro tem responsabilidade com a sociedade de garantir a continuidade e a qualidade do fornecimento de energia elétrica para a população mineira, de modo que as urgências e emergências permaneceram atendidas”.

Quanto aos serviços de rotina, Emerson disse que serão interrompidos e o atendimento passa a ser obrigação exclusiva da empresa.

CPI da Cemig

A Cemig é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) conduzida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que investiga decisões tomadas entre 2019 e este ano pelo presidente da empresa, Reynaldo Passanezi Filho, como contratos assinados sob dispensa de licitação e negociações de patrimônios vinculados à estatal mineira. Em janeiro deste ano, a Cemig vendeu, por R$ 1,37 bilhão, a fatia que detinha na Light, companhia de luz que atua no Rio de Janeiro. Em 2019, quando ainda estava vinculada à Cemig, a Light negociou, pelo valor simbólico de R$ 1, suas ações na Renova, que atua com fontes energéticas renováveis.

O que é Acordo Coletivo de Trabalho 

O Acordo Coletivo é um instrumento firmado após negociação entre uma ou mais empresas e a entidade sindical que representa os trabalhadores. Ele estabelece reajuste salárial, benefícios, condições de trabalho e outros itens que valem só para os trabalhadores desta empresa. Na maioria das vezes, esse acordo serve para resolver alguma situação conflitante e, para isso, é realizado a negociação.